Associação Academia de Cultura e Solidariedade Ramiro Freitas
Estaremos a tratar sofrimentos emocionais decorrentes de frustrações da vida social moderna com o mesmo método e justificativa com que se trata Transtorno Depressivo? É necessária a consciencialização do problema e da conceptualização dos quadros de depressão e de frustração, designadamente na infância e adolescência.
A qualidade da vida emocional depende da satisfação com que se vive. Se preferir, a qualidade de vida depende da felicidade, e esta, depende de nosso destino coincidir com nossa vontade, ou seja, estamos felizes se está a acontecer agora aquilo que eu queria que estivesse mesmo a acontecer. Mas esse evento não é tão simples como parece. A coincidência vontade-destino é mais abrangente do que a simples sucessão dos acontecimentos. Para ser completa a ideia de felicidade, os sentimentos devem ser, nesse momento, justamente aqueles que eu mais queria estar a sentir (agora).
Na prática, isso quer dizer que não basta estar numa praia paradisíaca curtindo as férias, mas também estar satisfeito e sentir que a minha felicidade está plenamente presente. Também o prognóstico de vida faz parte da sensação de felicidade, ou seja, a sensação de que as coisas continuarão sendo boas.
Juntando essa ideia com a natural aptidão humana para o desejo, para a expectativa, para a pretensão, e sabendo que nos frustramos na proporção em que pretendemos, fica mais clara a ideia de John Stuart Mill [1] ao dizer que “aprendeu a procurar a felicidade limitando os desejos, ao invés de satisfazê-los”.
Neste texto refletimos sobre a diferença entre depressão e frustração, ou melhor, diferenciar a tristeza consequente às frustrações quotidianas e fisiológicas do homem moderno, os aborrecimentos do dia-a-dia, os sentimentos de perda, luto, contrariedade, da depressão propriamente dita, que é uma condição patológica, limitante, e que implica na necessidade de tratamento específico adequado.
Falar em frustração não significa falar de algo doentio, mórbido. A frustração, é uma ocorrência universal e comum a todas pessoas conscientes das condições de sua existência, significa algo necessário ao amadurecimento e, consequentemente, ao desenvolvimento do sujeito, de sua relação com o mundo percecionado (sua realidade), com os outros e consigo próprio.
O ser humano tende a fugir da dor e se aproximar do prazer. Portanto, há sempre uma pretensiosa tentativa de suprimir o sofrimento das frustrações ou das perdas. Entre as várias maneiras que o ser humano usa para essa fuga da dor, incluindo os mecanismos de defesa, as negações, compensações, etc., tudo isso como parte um leque de recursos interiores, recorre-se também à ajuda externa, algo de fora da pessoa.
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