Cemitério de São Domingos de Rana - Cemitério de São Domingos de Rana

De um lado para outro

“A press?o demogr?fica, o desenvolvimento dos recursos naturais e a vontade dos interesses pol?ticos dos governantes, a que, por vezes, se aliava o factor concedido aos poderosos, determinaram, isolada ou concomitantemente, ao longo dos tempos, as depend?ncias civil e eclesi?stica das povoa??es. ? um processo din?mico, com ajustes e reajustes v?rios, de que ? dif?cil, em alguns casos, conseguir restabelecer a totalidade dos passos, com exactid?o.

Para a dificuldade concorre a n?o coincid?ncia, muitas vezes, das ?reas territoriais civil e eclesi?stica. A separa??o destas duas jurisdi??es era real. Aconteceu at? uma povoa??o, cabe?a de freguesia (?mbito religioso), fazer parte de uma circunscri??o civil, tendo, no entanto, parte do seu territ?rio distribu?do por mais de um termo (?mbito civil). Esta situa??o verificou-se tamb?m com S. Domingos de Rana, cujas povoa??es, embora integradas na mesma freguesia, se encontraram espalhadas pelos termos de Cascais, Oeiras e Sintra.

Desde a instaura??o do termo de Cascais, por carta r?gia de D. Fernando, de 8 de Abril de 1370, que o territ?rio onde se veio a implantar S?o Domingos de Rana ficou inscrito nos seus limites. Fizera parte anteriormente do termo de Sintra, donde foi desanexado o de Cascais.

Desde a sua cria??o, possivelmente no s?culo XVI, como noutro local referimos, que S?o Domingos de Rana se manteve no termo de Cascais, at? que, por alvar? de 11 de Agosto de 1759, ao ser instru?da a vila de Carcavelos e definido o seu termo, passou a fazer parte deste territ?rio.

Os limites da nova divis?o administrativa de Carcavelos, resultante da sua separa??o do termo da vila de Cascais e da uni?o com o “da outra vila de Bucicos”, desenvolviam-se “pelo rumo do norte o terreno que vay da quinta da Boi?a pela estrada p?blica direita ao lugar de S. Domingos de Rana, e por detraz da Igreja deste lugar ao Passom?o direito a Rebelva”. Compreendia este termo os “lugares de Carcavelos, Sassoeiros, Rebelva, S. Domingos de Rana e Arneiro”.

Entretanto, por alvar? de 9 de Abril de 1764, D. Jos? fez “saber que (…) pa a Adm. da Justi?a e benef?cio da economia p?blica, sou servido incorporar ambas as referidas vilas (Oeiras e Carcavelos) e os seus tos. (termos), ficando tudo unido em huma s? jurisdi??o e fazendoce as audi?ncias na V? de Oeyras”. E assim terminou o curto per?odo de autonomia municipal de Carcavelos e deu-se a sua anexa??o ao termo de Oeiras, bem como da povoa??o de S?o Domingos de Rana. Nesta situa??o a vamos encontrar at? ?s primeiras d?cadas do s?culo XIX.

Aos o triunfo do liberalismo, a v?ria legisla??o promulgada sobre a reorganiza??o administrativa do pa?s, tentou, em teoria e por princ?pio, registando, contudo, os atropelos demag?gicos de obedi?ncia a clientelas e fins eleitorais, reordenar o territ?rio, segundo a tradi??o e os interesses da popula??o. Assim, o decreto n.? 65 de 28 de Julho de 1833, estabelecia, logo no seu primeiro artigo, que as comarcas ficam divididas em concelhos e que “estas compreendem uma ou mais freguesias por inteiro”.

Oportuno ser? agora aqui referir que foi, a partir deste decreto, que a freguesia assumiu car?cter pol?tico e judicial, deixando, portanto, de ser somente uma mera divis?o do foro religioso.

Na sequ?ncia da lei anterior, o decreto de 18 de Junho de 1835 veio estabelecer que o “n?mero de concelhos e de freguesias e a sua extens?o ser? oportunamente regulado segundo o exigir a comodidade dos Povos e o bem do Servi?o”.

Definidos assim os princ?pios gerais a que deveria obedecer a grande reforma da divis?o administrativa, esta culminou com o decreto de 6 de Novembro de 1836. Admitindo as omiss?es poss?veis, o legislador determina que os administradores-gerais dever?o informar os casos “a que concelho essas Freguesias devem definitivamente pertencer” e que “as povoa??es que se julgarem indevidamente colocadas (…) remeter?o as suas Representa??es (…) para que o governo possa provar como for de Justi?a”.

Os ajustamentos e omiss?es referidos foram, posteriormente, tomados em considera??o na nova divis?o administrativa de 18 de Mar?o de 1842.

Julgamos que foi, pois, por for?a deste diploma que S?o Domingos de Rana voltou definitivamente a ser incorporada no concelho de Oeiras em 1838, num mapa das povoa??es servidas pelo correio desta vila. A partir de ent?o, surge sempre integrada no concelho de Cascais.”

O crescimento

“Nos arredores de Barcarena, Oeiras, Pa?o de Arcos, Carcavelos e S?o Domingos de Rana, a evolu??o da popula??o entre 1864 e 1890 ? paralela ? de Lisboa; entre 1890 e 1900, enquanto Lisboa aumenta de popula??o, estas freguesias diminuem, devido ? crise de filoxera, ? redu??o da ?rea de cultivo de cereais, aos muitos encargos impostos pela cultura arvense; no dec?nio seguinte, regista-se um brusco aumento, devido, certamente, ? constru??o da linha f?rrea do Estoril.

A d?cada de 1910-1920 ? afectada, como todo o pa?s, pela guerra e pela gripe pneum?nica. ? a partir da? que se inicia a verdadeira transforma??o desta vasta ?rea, em fun??o da proximidade e da atrac??o da capital, transforma??o que n?o se fez de forma homog?nea.

Pela d?cada de cinquenta, os lugares mais no interior viviam ainda uma vida rural n?o mais de auto-consumo, mas virada para as necessidades crescentes da cidade, na qual a produ??o de leite era a principal fonte de receita, e ensaiavam as primeiras cooperativas de produtores, associadas para a distribui??o de leite e fabrico de manteiga e queijo e sua comercializa??o.

As aldeias, de casas baixas, quadrangulares, telhados de quatro ?guas, onde ainda n?o era raro sobressair alguma casa antiga de quinta, de andar, com beirais revirados (de fei??o oriental), come?am a ser invadidas por veraneantes; primeiro, alugam-se as casas dos camponeses que, durante esse tempo, passam a viver em barracos no quintal ou em casas de pessoas de fam?lia; depois, elas come?am a ser compradas e logo aparecem melhoradas, caiadas, rebocadas; finalmente, inicia-se a venda de terrenos para constru??o.

Das constru??es de veraneio ?s permanentes, da iniciativa de empreiteiros, foi um passo: e o desaparecimento das velhas aldeias e dos velhos modos de vida foi um processo acelerado. Este pode considerar-se geral, mas n?o simult?neo: por acasos de fortuna, uns lugarejos antecipam-se a outros, sem que para isso interferisse a posi??o ou proximidade do grande centro urbano.

Com os n?cleos residenciais instala-se o com?rcio corrente e alguns servi?os; nos mais populosos, ou de maior nome tradicional, instalam-se ou desenvolvem-se escolas secund?rias; em breve se tornam lugares de resid?ncia permanente, cada vez mais procurados e, por isso, alastrando mais para al?m dos limites tradicionais. H? velhas aldeias inteiramente absorvidas pelas constru??es modernas, sendo um dos melhores exemplos Sassoeiros, n?o longe de uma das mais antigas e importantes povoa??es rurais do termo da cidade: S?o Domingos de Rana. Esta ? uma evolu??o cont?nua de pouco mais de uma vintena de anos (…).”

In TEIXEIRA, Carlos A; CARDOSO, Guilherme; MIRANDA, Jorge - Registo Fotogr?fico da Freguesia de S. Domingos de Rana e Alguns Apontamentos Hist?rico-Administrativos, Cascais, Associa??o Cultural de Cascais, 2003, p. p. 23-24 e 29